segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Rio

Romântica
E antropofágica
Urbe
De amor e de
Navalha
Teus nomes
São versos
Teus bairros,
Estrofes
Teus setembros
Floridos
Fevereiros
Calores
Teus Janeiros
Dezembram sobre mim

Poemas de amor
Te definem, Rio
Teu samba
Meu som
Teu choro
Meu tom
Teu canto
Meu conto
Tuas cores
Tão Brasil
E tão Paris
Romântica
E antropofágica
Urbe
Cidade-Poema
De versos sem
Fim

Pedro Vargas

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Anjo

Conheci meu Anjo-da-Guarda
Criatura rara
Como um estranho passarinho
Uma mulher vestida de céu.
Disse que veio me proteger
Mas em verdade
Não protegeu nada
Não sei bem se, de fato,
Era anjo
Podia ser só uma espécie
esquisita de borboleta
Ou uma manhã ensolarada
Cheirosa de mel
Podia até ser
Uma revoada de gaivota
Ou uma mulher,
Com corpo de nuvem
E os pés no firmamento

Pedro Vargas

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Doce Delito



Já fazia tempo que Fernanda conhecia Montanha. Por certo Montanha realmente não se chamava Montanha. Tratava-se apenas de um apelido que ganhara nos tempos de colégio. Acontece que Montanha pesava pra mais de 120 quilos quando criança. Já na idade adulta passara a pesar quase 200. Montanha não era feliz com aquele apelido, mas guardava isso para si, já que ninguém o conhecia pelo nome. O fato é que Montanha ilustra bem a sua pessoa. Nunca se vira ninguém que fosse tão grande quanto ele.
Montanha não gostava de ser montanhoso como era, mas nunca fizera nada para mudar seu peso. Nenhuma dieta, nem greve de fome, nem nada. Mesmo que fizesse, pouco mudaria. A montanhice de Montanha não se tratava de negligência alimentar, e sim de algo hereditário. Os amiguinhos de Montanha, quando criança, chamavam seu pai de Everest. Sua mãe era Kilimanjaro. Como são cruéis, as crianças. Montanha todo dia chorava em seu quarto por ser gordo e grande. Mas aprendeu a conviver com isso. Batia em todos os garotos que caçoavam dele, com requintes de crueldade. Veja que certa vez Montanha, bateu em um menino, jogou-o no chão e pulou em cima dele. O pobre menino nunca mais foi o mesmo: ficou conhecido como Panqueca. Depois disso, Montanha passou a ser respeitado na escola e na vizinhança e ninguém nunca mais caçoou da sua montanhez.
Já Fernanda conheceu Montanha em outra ocasião. Acontece que Fernanda era namorada de um primo de Montanha. Primo deveras próximo. Mas Montanha desejava Fernanda como a um bolinho de chocolate. Fernanda não dava muita bola pra ele, já que era apaixonada pelo primo. Montanha tratou logo de ficar amigo de Fernanda, para que mais tarde, quando o primo se cansasse da menina, Montanha pudesse se arranjar com ela.
Fernanda e o primo andavam brigando feio ultimamente e a menina preferiu acabar com tudo, para que não houvesse mais sofrimento. Mais tarde descobriu que as brigas eram, na verdade, a tentativa de encontrar um motivo para terminar. O primo era afeminado, e andava por aí de chamegos com um outro rapaz das redondezas. Fernanda ficou, de fato, abalada quando soube do caso de amor entre os dois rapazes.Fernanda chorou, chorou, ficou dias trancada no quarto, ficou noites em claro, até que certo dia a dor passou. Simples assim. Ela então saiu de casa e resolveu encarar o mundo. Montanha achava que Fernanda ainda estava abalada com a história e resolveu investir. A garota negou. Disse que já tinha outro cara na sua vida, e que eles eram super amigos, não teria nada a ver eles dois ficarem juntos. A verdade é que tudo isso era pura mentira. Fernanda nunca fora super amiga de Montanha, muito menos tinha outro cara. O que ela tinha era nojo da montanhez do Montanha. Tinha nojo do Montanha e toda a sua gordura nojenta, e toda a sua nojenta cara lambuzada de doces e guloseimas. Fernanda nunca comentaria nada disso em momento nenhum, porque, afinal, não seria legal com o Montanha.
O problema é que Montanha não reagiu bem à negação de Fernanda. Como poderia aquela menina, um bolinho de chocolate, negar o pedido do Montanha? Montanha tinha muita fome, naquele momento. Uma fome que nunca tivera antes. Montanha queria comer. Montanha queria comê-la. Montanha precisava de um bolinho de chocolate. Montanha, então, pediu pra encontrar Fernanda de novo. Fernanda aceitou, sem saber o que a esperava.
Ao chegar no local combinado com Montanha, Fernanda foi acertada na cabeça por uma panela. Montanha, agora, lembrava o Montanha criança. Foi sem dor alguma nos olhos que Montanha cortou Fernanda em pedacinhos, refogou e comeu, junto com macarrão. De sobremesa um bolinho de chocolate. Quando, na prisão, Montanha lembrava do ocorrido, sempre pensava: “Nem era tão gostosa assim”.
Pedro Vargas