sábado, 31 de janeiro de 2009

Chuvosa Noite

Chove forte negra noite negra.
Cai um mundo inteiro
Em cima da nossa cabeça.
Que chova a vida inteira.
É tanta água que parece cachoreira

Chove lenta negra noite negra.
Devagar e sempre
A chuva cai na minha telha.
É poesia de primeira,
Que atravessa o quarto sob a forma de goteira.

Chove intensa negra noite negra.
Lágrima do céu
Que me refresca a cuca fresca
E que remove a poeira,
Que me lava a alma me curando a bebedeira.

Chove morte negra noite negra.
Repentinamente
Desabou a ribanceira.
Isso é tragédia corriqueira
Vidas vêm e vão em meio a essa aguaceira.

Pedro Vargas

domingo, 25 de janeiro de 2009

A Concha


O ar que me falta
É o ar que suspiras
O mar da tua falta
Está guardado na concha
O som da tua fala
É a onda que chega
distante
Que quebra
Na areia
Que mesmo
Tão longe
Se ouve
Daqui

A roupa do corpo
É só o que me resta
Que o resto,
já pegaste pra ti
Aguardo na praia calada
Num vento de já madrugada
O dia que vens me despir

Pedro Vargas

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Puberdade


Ah, como era linda a inocência dos anos 60. Maria tinha apenas quinze anos de idade quando perguntou para a mãe:

- Mãe, me explica um coisa?
-Que que houve, Maria, não vê que eu estou fazendo a comida?
- Mas é que isso tá me incomodando faz um tempão. - retrucou a menina.
- Tá bom, então. Mas fala rápido, você sabe que eu odeio ser incomodada na cozinha.

A menina, de repente, ficou calada como se tivesse perdido a coragem que ganhara três minutos antes, quando chegara na cozinha.

- Fala logo, Maria! Tá me deixando preocupada. - Falou a mãe diante daquele silêncio enlouquecedor que fazia a filha deixando a entender que o assunto era sério
- Sabe o que é mãe...

Essa demora para falar não era de costume. Geralemente a filha era curta e grossa, o que lhe dava, inclusive, um ar mal educado, que a mãe não gostava muito. Mas era melhor que aquela demora angustiante. A cada segundo de silêncio que passava, a mulher picava mais rápido os pimentões verdes, cheirosíssimos. A esta altura já parecia uma máquina, de tão rápido que cortava.

- É que eu tô sentindo coisas.

A máquina de cortar pimentões parou de repente. talvez fosse melhor ter continuado o silêncio. Pelo menos era mais produtivo.

- E.. que tipo de coisas, minha filha? - indagou a mulher com um certo medo da resposta que ia ouvir.
- Ah, num sei... um calor... - "Calor?!" - Que sobe... - "Sobe?!" - Pela virilha - "VIRILHA?!". Essas três palavras juntas numa frase não podia ser boa coisa. Sem dúvida a mãe conhecia a expressão "calor que sobe pela virilha" já usara como praticara inúmeras vezes, era sinônimo de "putaria". Palavra, certamente, imprópria para o horário nobre. Não queria ter ouvido tais palavras saírem da boca da filha, não assim tão novinha. Afinal eram de uma família tradicional tijucana. A menina estudava no Instituto de Educação, na Mariz e Barros, já cursava o primeiro ano do colegial. Definitivamente não era uma boa frase de se escutar da filha nessa idade.

Já tivera uma conversa desse tipo com ela antes, mas numa época que acreditava que a filha morreria casta. Lembrava como se fosse ontem que falara sobre como as abelhinhas colhem o néctar das flores com suas trombas fálicas, deixando, por muitas vezes, escorrer um líquido branco cheio de vida, e que a menina deveria tomar cuidado para que tal líquido não respingasse dentro de sua florzinha inocente senão uma cegonha certamente viria dentro de alguns meses. Logicamente a menina não entendeu bulhufas e passou a ter um pavor de abelhas.

Depois de terminado o momento de nostalgia em sua mente, perguntou para a filha:

- E quando você sente esse calor, Maria?
- ah, às vezes quando eu escuto o disco novo do Roberto Carlos - Como eram inocentes, as meninas dos anos 60 - às vezes quando eu to indo dormir, às vezes quando eu tô deitada na cama do Marcelo - OK, nem tão inocentes assim.

A mãe, que já estava nervosa, ficou atônita.

- E o que você faz deitada na cama do Marcelo?!? - Disse numa voz rouca, trêmula, quase inaldível.
- Ah, mãe, num sei. Às vezes a gente fica conversando, às vezes ele fala coisas no meu ouvido e começa a subir esse calor. Às vezes ele me mostra a minhoquinha dele. Não é muito grande não, já vi maiores, mas também não é a menor que eu já peguei. Às vezes ele fala que é o Dr. Ricardo, meu ginecologista, sabe? Então, ele fala que é o Dr. Ricardo e examina a mariazinha pra ver se não tem nada errado. Aí o calor sobe mais ainda. Às vezes ele bota a.... Mãe?!

A mulher encontrava-se, em estado catatônico, caída no chão. Maria logo correu ao telefone e discou para a emergência. Em alguns minutos os para-médicos chegaram e levaram a mulher para o hospital. A moça então pegou novamente o telefone. Dessa vez discou o número do escritório do pai.

- Pai?! Mamãe foi para o Souza Aguiar, desmaiada!!! - Gritou a menina ofegante, como que assustada.
- Ai meu deus! Eu estou indo pra lá! Ligo quando tiver tudo bem! Fica calma minha filha, fica calma que vai dar tudo certo! - falou o pai, tentando consolar a pobre menina.

A menina desligou o telefone, pegou-o novamente e discou uma terceira vez.

- Alô, Marcelo? Pode vir que deu certo.

Ah, como era linda a inocência dos anos 60...

Pedro Vargas

domingo, 4 de janeiro de 2009

Água na Boca (ou Lapa)


Meu pensamento meio torpe, bêbado, me impede de mentir. Não que eu minta, minhas verdades é que ficam ainda mais sinceras quando bebo.

- Gostosa - eu falo.
-Que?
- Gostosa - repito enquanto aperto aquela bunda enorme.

Fico pensando se não fui com muita sede ao pote. Mas ela gosta. Tanto que morde os lábios. Mas é mesmo uma gostosa, pra que que eu vou mentir? Gostosa gostosa gostosa.

Então eu provoco: finjo que beijo, mas não vou, puxo seus cabelos, lambo-lhe a orelha. Ela gosta. E morde os lábios de novo. Deve ter visto que eu gostei daquilo.

Sua beleza Renascentista me encanta. Seus seios fartos, bunda colossal, coxas pra ninguém botar defeito. Sua beleza carnal não diminui a beleza da face macia e escultural. É como uma típica escultura clássica.

Ela parece estar meio tonta também. Vai ver por isso faz essa cara de desejo, não devo ser tão gostoso assim. Quero levá-la pra casa, infelizmente ela recusa

- É muito cedo pra gente fazer isso - ela diz

Muito cedo é o caralho, eu penso, mas não sou tão sincero assim.

Ela tem que ir. Chama o taxi e vai. Meu caminho é longo. Saio dos arcos, vou pra cinelândia. De lá pego a Rio Branco. Viro na carioca, ando mais um pouco, e finalmente chego na praça XV. De madrugada não tem mais barcas, tinha me esquecido. Então vou até o ponto do 100. Ponho meus pés no ônibus e apanho o aparelho celular do bolso.

- Já chegou? - Claro que já chegou. Da lapa até a tijuca é um pulo, principalmente de taxi.
- Já. Acabei de sair do banho.
- Ah, tá. Depois a gente se fala então. Beijo. - e desligo.

"Acabei de sair do banho". Pra que dizer isso? Pra eu imaginá-la nua? Se foi por isso, conseguiu. Gostosa demais.

Da praça XV até o terminal em niterói não dá nem meia hora de madrugada. Penso em dormir. Melhor não, não quero perder nem um minuto da sua nudez gratuita na minha mente suja. Niterói chega num piscar de olhos. Tenho que ir a pé do terminal até em casa. Não é muito, mas eu estou cansado. Queria pegar um taxi, mas é melhor poupar dinheiro. "acabei de sair do banho". Gostosa, fez isso só pra me provocar. No meio da Amaral Peixoto paro e mijo. Geralmente espero chegar em casa, mas a vontade é grande. Não dá pra segurar. Sigo meu caminho pensando nela saindo do banho nua, molhada, atendendo meu telefonema. Gostosa.

Chego em casa quando está amanhecendo. Deito, durmo com a mesma roupa suja da noite, não ligo. O sono ganha de mim. Lembro da música do cazuza. O mundo inteiro acordando e eu indo dormir. Quando acordar eu tomo banho. "acabei de sair do banho". É com isso que sonho a manhã inteira. Acordo à uma da tarde pensando se não falei verdades demais noite passada. Melhor ligar pra ela de novo. Quem sabe não dou a mesma sorte de ontem.

-Alô?
- E aí vai fazer o que hoje?

Pedro Vargas


Perdoem-me os erros de português, que com certeza existem graças às novas regras de gramática que eu não aprendi ainda. Na proxima vez não ponho acento nenhum também!