sábado, 28 de novembro de 2009

As Cores do Mundo

O mundo é colorido, meu bem
Aproveite as cores que o mundo tem!
Veja o verde que verdeleja por aí
E o amarelo que se mete,
Tão amarelo, no meio de tudo
Sem qualquer cerimônia
O azul que tinge o dia
O cinza que, de tão sem cor,
Se faz importante colorificador
Assim como chupar uma laranja
Antes de provar o doce do doce
Veja que o mundo preto e branco
Não seria tão mundo, como a gente sente
Veja que as coisas só são as coisas
Porque são coloridas
Senão a abóbora não seria abóbora
Muito menos a beterraba ou o vinho
Veja que as rosas são vermelhas
Veja o branco das nuvens e o sol da manhã
Veja o que não tem cor
Porque aquilo é cor
Apesar de não ver-se assim, colorido
Veja o que é som
Porque o som é colorido também
Ou não percebeu?
Que a cor do som é tão colorida
Que pede pra ser vista
Veja, por favor VEJA!
Porque o que é cor é bom
E tem sabor, e tem som
E tem tato
Porque o que é cor é lindo
E está aí pra ser visto
E admirado.

Pedro Vargas

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Costela


Enquanto Deus brincava de deus
Lá pelos lados dos jardins do Éden,
Arrancou de mim uma costela
Para moldar, linda, ela.

Fez-se, então, a Fêmea.
Maravilha em forma feminina,
Delicada flor em vias de brotar,
Com um quê de sabor que apaixona
qualquer homem que aproxima
E até outras fêmeas
Que por ventura dêem de gostar.

Fez-se, então, mulher,
Perfeição aos olhos poetas.
Costela que me falta
E me completa.

Pedro Vargas

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Araribóia


Eram dois garotos bem novinhos discutindo sobre o Rio e Niterói:

- Dá pra passear de barca
-Aqui também!
- Dá pra andar na ponte
- Dããã! aqui também, ô mané!
- Mas daí pra cá tem que pagar pedágio
- Ué, mas se você vem você volta
- Mentira, se eu quiser volto de barca
- Mas volta de qualquer forma
- Mas uma coisa num tem nada a ver com a outra.
- É verdade. Quero ver me barrar agora: aqui tem Jesus! E aí? Hein?
- Aqui.... Aqui tem um índio!
- Grande coisa. Que que ese índio faz?
- Sei lá. Peraí que eu vo perguntar pra minha mãe. MANHÊÊÊÊ!!!!!!

Então o menino larga o fone e sua voz some. Após alguns instantes reaparece o garoto com a resposta na ponta da lingua, como se decorada.

- O índio Araribóia atravessou a Baía de Guanabara a nado partindo do Rio de Janeiro. Na outra margem fundou a cidade de Niterói.
- Que burro!!! ao invés de pegar a barca!!!
- Eu falei a mesma coisa pra minha mãe. Ela disse que não tinha barca ainda.
- Que estranho.
- Pois é

Alguns segundos de silencio se passaram.

- Mesmo assim! Grande coisa atravessar a baia de guanabara! O meu ANDAVA sobre a água!!!
- É, mas o meu fundou Niterói!!!
- Ué, o meu fundou o Rio!!!
- Mas o meu andava por aí peladão!!
- E o meu andava cheio de roupa!
- Que que isso tem de legal?

Do outro lado da linha o garoto parou, ficou pensando em silencio até chegar à sensata conclusão:

- É, você tem razão. Niterói é bem mais legal que o Rio.

Pedro Vargas

domingo, 20 de setembro de 2009

O Buraco

Buraco
Lindo buraco
Quentinho, escurinho, molhado

Como é bom esse buraco
Como eu quero ele pra mim
Meter, meter de novo
Enfiar até o ovo

Entre pernas
Entre falos
Está o buraco
Num vai e vem revolto
Num entra e sai danado

domingo, 13 de setembro de 2009

Chuvisco



Chovia, ali, uma chuva
Fina como agulha
Ele, então, deixou-se banhar
Com as gotículas de maravilha
Que caiam do céu sem reclamar
Lavou ali sua alma
E, de quebra,
Ainda pegou um resfriado


Pedro Vargas

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Amor

Um embate endógeno do ser amante
Um voraz calcinamento no peito esquerdo
A via crucis de um viver enamorado
O vasto fogo de um inquieto sentimento
Um vortex sentimental e dramático
Um câncer em vias de tornar-se metastásico
Uma faraônica obra romântica
Uma tormenta para os platônicos apaixonados
A vida boa pra quem ama e é amado

Pedro Vargas

segunda-feira, 20 de julho de 2009

domingo, 12 de julho de 2009

Revolução Francesa

Era estranho ver-se tão nostálgico como naquela noite. Revia sua vida, seus antigos amigos, seus amores, a memória distante dos dias que passaram. Com era bom tudo aquilo!

Lembrava da sua infância. Peão. Video-game. Bola de Gude. Pique Pega. Desenho de manhã. Escola de tarde, que saco. Feriado, que alegria! Lembrava da adolescência. Quando sentiu o pau duro pela primeira vez. Cabelo no sovaco. Cabelo no saco. Primeiro amor. Pornografia na internet. Desenho de manhã. Almoço no quarto para acompanhar Liga da Justiça. Primeira transa.

Não foi tudo aquilo que diziam. Deve ter sido culpa dela. Foi atrás de outra. E outra. E mais vinte. E mais trinta. E não tinha mais controle do seu próprio pênis. Insaciável. Aos vinte e três anos já transara com praticamente todas as mulheres da sua cidade, as únicas excessões: sua mãe e sua avó.

Resolveu mudar-se para o Rio. Respirar novos ares. Procurar emprego. Faculdade. Quem sabe uma mulher que o satisfizesse. Afinal, daquele lugar já desfrutara tudo que podia desfrutar.

Chegou no rio sem eira nem beira, só com a malinha nas mãos. Dentro dela apenas cuecas, uma muda de roupa e camisas, de Vênus.
Lembrava do Rio. Do apartamento que conseguira no centro da cidade. Apertado. Do emprego numa lanchonete coreana. Aperto. Da praia. Das mulheres. De Ana.

Tivera muitos amores no Rio. Todos se perderam no tempo devivo à insatisfação sexual. Com Ana foi diferente. Talvez ela tenha sido o grande amor da sua vida, mas ele não gostava de rotulações. Nessa época já melhorara de vida. Mudara-se para Niterói. Trabalhava em um respeitado restaurante da cidade e cursava a faculdade de História na Universidade Federal Fluminense

Lembrava da UFF. Pré-história. Ritinha. História Oriental. Amélia. Revolução Francesa. Ana. Ana. Foda-se Napoleão. Foda-se a Guilhotina. Só tinha olhos para os olhos de Ana. Chegou a esquecer sua obsessão. Um dia numa conversa entre amigos, Ana presente, sentiu aparecer um certo clima entre eles. Saíram dali juntos. Ele e ela. Ela e ele. Foram tomar sorvete na praça do rinque. Lembrava até o sorvete que ela tomou naquele dia. De pistache. Achou estranho. Verde demais pra ser sorvete. Ficou pensando como seria um pistache. Será que era verde mesmo? Mistérios da vida.

Saía com Ana toda semana depois da aula de Revolução Francesa. Faziam todo tipo de programa. Passaveavam na praia de Icaraí, iam ao cinema, tomavam chope num bar ali perto da universidade. Tudo! Menos sexo. A pobre Ana já subia pelas paredes quando um dia perguntou:
- Porque você não quer me comer?
Ficou assustado com a pergunta assim na lata
-Porque... Porque eu tenho vergonha.
-Vergonha de quê, criatura?
-... Do meu pau.

O assunto terminou ali. Ele ficou aliviado. Não falara a verdade para Ana. Ele tinha era medo dela não o satisfazer como as outras. Estava muito feliz com a situação. O seu amor bastava. Não queria estragar tudo só por causa de sexo.

Um dia foram juntos a Paquetá. Passearam de bicicleta, almoçaram peixe frito com pirão. Pararam para namorar em um local mais reservado.
Lembrava da cor daquele fim de tarde. Vermelho-alaranjado. Lembrava do sol se pondo. E isso o fez lembrar do pedido de Ana:
-Deixa eu ver o seu pau.
Ana gostava de o deixar assustado. E sem graça
-C-c-como assim?
-Ué. Num tem ninguém aqui! Me mostra o seu pau, anda!
-Desculpa, Ana. Mas não dá.
- Olha só. gosto pra caramba de você, mas sem sexo não dá pra continuar. Ou você me come, ou eu te largo.
-Desculpa... Não dá mesmo.
- Então Tchau.
E assim terminou seu romance com Ana. Numa tarde de sol vermelho-alaranjado na ilha de paquetá.

Depois disso perdeu o gosto pela vida. Entrara no fundo do poço. Lembrava do fundo do poço. Bebida. Cachaça. Dias cinzas. Cinza. Foda-se Faculdade. Foda-se Napoleão. Foda-se tudo.

Preferia não encontrar Ana. Estava sempre com outros caras satisfazendo seus desejos carnais. Pensava agora como sexo era uma merda. Quando fazia não gostava. Quando não fazia, não gostavam dele. Morria de ciúmes de Ana. Foi aí que percebeu como Niterói É uma cidade pequena. Ia na praia, encontrava Ana. Ao cinema, lá estava ela. Na praça, encontrava Ana tomando sorvete de pistache. Sempre acompanhada. Se remoía por dentro pensando nas perversidades sexuais que Ana fazia com seus inúmeros namorados. Resolveu, naquele instante, que levaria a vida normalmente sem Ana dali em diante.

Não conseguiu. Ana tomava sua cabeça. O ápice de sua loucura de amor foi na prova final de Revolução Francesa. Esquecera-se de Danton, de Robespierre, de Marat, do Iluminismo, de Luís XVI, da guilhotina, dos Jacobinos, de Napoleão. Sua resposta para todas as perguntas era apenas uma única palavra: Ana. A última questão da prova era uma redação onde o tolo apaixonado escreveu uma linda declaração amorosa.

Conclusão: Repetiu Revolução Francesa. A prova rodou a universidade inteira. E agora ele era motivo de chacota por todo o campus do gracoatá. por onde passava ouvia risos e engraçadinhos gritando "Vive la France!". Ficou conhecido como Revolução Francesa.

As férias chegaram e voltou para a sua cidadezinha. Visitar os pais. Encontrar antigos amigos. Reviver. Dormir de tarde na rede. Ouvir os seresteiros de noite na praça. Contar histórias da cidade grande. Do Rio de Janeiro. Da praia. De Niterói. De Paquetá. De Ana. Ana. Ana.

No dia seguinte voltou para niterói apressado. Os pais não entenderam nada. Ele só falou:
-Vou mostrá-la o meu pau!
E foi-se embora de ônibus.

Quando chegou em niterói, mal desfez as malas e ligou para Ana. Chamou-a para tomar sorvete na praça.
-Só se for de pistache. - Riu ela.
-De pistache, então.
Encontrou-se com ela na praça como combinado. Conversaram sobre a vida, as férias. A prova tivera um lado bom afinal. Assim como todo o campus vira, Ana também a vira.
-Revolução Francesa, hein?
-Pois é - Riu ele
- E você pensa aquilo mesmo?
- Por que? É ruim?
- Não! É a coisa mais linda que eu já li na vida!
- Ana, Eu te amo! Eu quero te mostrar o meu pau, Ana!

Lembrava muito bem daquela tarde em que voltara para Ana. Azul e verde. Azul do céu, verde do pistache.

Lembrava dos dias que se seguiram depois da volta com Ana. Sol. Férias. Praia. Amarelo. Cinema. Pistache. Verde. Sexo. De quatro. Oral. meia-nove. Amor. Felicidade. Satisfação. Alívio. Felicidade. Enfim uma revolução. A volta com ana foi anunciada até no jornal da universidade com a manchete "Fim da Revolução Francesa!". Vencera enfim. Terminara o curso de história e começara a lecionar em um colégio estadual em niterói. Sua vida se estabelecia ao lado de Ana.

Agora via-se na poltrona de casa com uma aliança guardada na caixinha escrito "monte carlo", lembrando de toda a sua vida até aquele momento. Pensava no que viria pela frente. Cabelo branco. Velhice. Amor. Filhos. Pai. Avô. Amor. Filha. Vida. Família. Amor. Morte dos pais. A sua própria. Amor. Sorvete de pistache. Sexo. Verde. Amor. Revolução Francesa.

Pedro Vargas

sábado, 13 de junho de 2009

Quando o sol nasce quadrado


Quando a viu
Com um cara
Do outro lado da rua
Instalou-se em si
A fúria

Três tiros bastaram
Para vê-los caindo no chão

Depois caiu em si
Mas era tarde
Via a sua liberdade
Escorrendo pelas grades
E paredes da prisão

Pedro Vargas

quinta-feira, 4 de junho de 2009

O Sexopata

Estava escuro naquele quarto de motel da Praça da Bandeira. Se não fosse pelo local onde se encontravam poderia-se jurar que aqueles gritos eram de dor ou sofrimento. Não eram.

Ela percebia, nos milésimos de segundo em que não estava gozando, que aqueles eram os maiores e melhores orgasmos que jamais tivera em toda a sua vida. Seu parceiro sabia exatamente o que fazer, que velocidade colocar na penetração, quando tocá-la e, o melhor de tudo, como fazê-lo. Isso sem contar o olhar. O homem parecia ter a maior calma do mundo. Transavam a três horas sem parar e ele não esboçara sequer alguma expressão de cansaço. Regenciava magistralmente aquela noite de pecaminosidades.

Ele saboreava cada centímetro quadrado do corpo feminino à sua frente. Sua face calma e serena não mudava por nada. Desde que começaram ele permaneceu com a fisionomia leve e tranquila. Não tinha muitos rodeios nem romantismo. Sexo, para ele, nada tinha com amor. Sexo era puramente sexo. Naquele caso, em especial, não havia amor. Muito menos afeto. Conhecera a menina algumas horas antes e ela lhe pareceu uma boa opção para matar o seu desejo carnal.

A menina parecia ver Deus a cada ir e vir que o pênis dele meticulosamente fazia em sua vagina. Quando, extasiada, berrou "ME BATE! ANDA, ME BATE!"

Bateu. Um tapa tão bem dado que carimbou sua mão em vermelho no rosto da moça. Fez-se um silêncio pesado no ar e então uma risada de satisfação. "BATE MAIS! BATE!". Deu mais três tapas em sua cara enquanto ela urrava de prazer. "ME ESPANCA, VAI! ME ENCHE DE PORRADA!". O homem, com a face mais doce do mundo, fechou a mão e começou a socar a cara da mulher, que agora urrava de dor. Ela suplicava "PÁRA! PÁRA!". Mas seus esforços eram em vão. O homem batia cada vez com mais e mais força. Era óbvia a intenção de matar.

Estranho era a contradição entre seus olhos e seus punhos. Enquanto um afundava seu crânio, esmagava seus olhos e quebrava todos os dentes em sua boca, o outro demonstrava uma compaixão tamanha que estranhou a moça.

Ele ouvia seus súplicos ficando mais baixos a cada soco na cara. Até que a menina parou de gritar. Sua face literalmente entrara. Um de seus olhos não existia mais de tão esmigalhado. Sentia tanta dor que nem notava mais. Foi quando ele parou de bater. Incrivelmente ainda havia um fio de vida no seu corpo esfacelado.

O homem, todo ensanguentado, entrou no banheiro. Deixara a porta aberta. Abriu a água quente do chuveiro. Esperou um tempo e finalmente entrou embaixo d'água. Olhou para o seu pau. Duro como rocha. Então olhou para a cama e a mulher sem expressão fitando-o. Começou a masturbar-se.

Curiosamente o seu rosto doce imutável não era mais o mesmo. Sua expressão era de um prazer descomunal. Sorria e gemia com o que a própria mão lhe proporcionava. Gozou.

Ficou ali olhando seu sêmen escorrer pelo ralo junto com o sangue alheio. Olhando. Olhando. O banho parecia não só lavar-lhe o corpo, mas também a alma. Seu rosto voltou a ter a calma de antes. Quando viu-se limpo fechou a água e secou-se.

Enquanto se vestia olhava para a moça com um sorriso tão doce que chegava a ser macabro. Viu o olho da moça piscar num tremendo esforço e teve pena. Ela continuava viva! Num ultimo ato de compaixão socou-lhe a face mais umas quatro vezes até não restar vida naquele corpo caído como um bicho morto. De fato o era.

O homem olhou para a moça mais uma vez. Deu um risinho baixo, pegou sua carteira na cabeceira da cama e saiu pela porta sumindo na madrugada.

Pedro Vargas

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Balé Mundial

Passam putas,
Como paçoquitas,
E o mundo gira,
Como bailarinas,
Tão suavemente
Que a mente
Da gente
Nem sente
Se mexer

Pedro Vargas

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Vergonha


À sombra de um disco voador
Trocar beijos e flertes
E sentir ventar sobre nós
O vento fresco da orla sorridente
Que ameniza o calor escaldante
Que faz no mundo afora

Ouvir-te, contrariado, dizer num tom vitorioso
Que o mais bonito de Niterói é a vista para o Rio
O que não deixa de ser verdade

Aventurar-nos na suburbana zona norte carioca
Em busca de risos sinceros no lotado Miguel Fallabela

Depois, num errôneo ato de cavalheirismo,
Me ver plantado num ponto de ônibus
Em plena Haddock Lobo
Durante um tempo que parece eternidade
Diante da circunstancia em questão

Pegar correndo a ultima barca,
Já apitando a sua saída.
Olhar a Guanabara e seu cheiro lindo de mar
Ainda mais lindo quando sob a lua cheia

Pensar nos seus olhos levemente estrábicos
Mas, ainda assim, fortes e determinados
Como fogos de artifício do réveillon

Lembrar que falta pouco
Pra ver os bichos e bichas
Em passeio pela Quinta da Boa Vista

Não conseguir dormir nem cochilar nem pestanejar
Pensando que falta pouco pra te ver de novo

Pedro Vargas

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Abre-te Pernas

Seus olhos se apertando
Num gozo infindável
Suas pernas se fechando
Num movimento infalível

Infalível, mesmo,
É dizer, aos gemidos,
Sacanagem ao seu ouvido
E então, mais gemidos,
Quase gritos
Sacanagem é, realmente
Infalível

Sua boca mordendo
A carne minha
Seu desejo, sua vulva
Já molhada de prazer
Incansável,
Molhar-se-á novamente
A cada toque meu
A cada arranhão
A cada mordida

A cada momento
O prazer é todo nosso

Pedro Vargas

domingo, 12 de abril de 2009

Antropofágico Faqueiro

Olho no reflexo da colher
E me vejo
Eu,
Como se comendo a mim mesmo
No café da manhã

Pedro Vargas

terça-feira, 7 de abril de 2009

segunda-feira, 16 de março de 2009

Pequeno pensamento poético-filosófico

O que é um poema
Senão uma canção
Desprovida de som?

O que é a canção
Senão a poesia que dança?

O que é a poesia, então
Senão a inovação
E renovação da língua
E da alma
Dita
Com palavras
Lindas ou não?

Pedro Vargas

sábado, 7 de março de 2009

Meu refúgio mental

Complexo como só
Tão só que me dá medo
Tanto medo que dá dó
Só dó de quem não lê
E quem lê se desespera
Um desespero sem razão
Razão de não mostrar
Mostrar pra todo mundo
O mundo que guardo aqui

Pedro Vargas

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Faz de Conta

Estranho, esse mundo
De faz de conta.
A gente sonha, sonha
Quando, de repente,
Se dá conta
Que era tudo verdade

Pedro Vargas

sábado, 31 de janeiro de 2009

Chuvosa Noite

Chove forte negra noite negra.
Cai um mundo inteiro
Em cima da nossa cabeça.
Que chova a vida inteira.
É tanta água que parece cachoreira

Chove lenta negra noite negra.
Devagar e sempre
A chuva cai na minha telha.
É poesia de primeira,
Que atravessa o quarto sob a forma de goteira.

Chove intensa negra noite negra.
Lágrima do céu
Que me refresca a cuca fresca
E que remove a poeira,
Que me lava a alma me curando a bebedeira.

Chove morte negra noite negra.
Repentinamente
Desabou a ribanceira.
Isso é tragédia corriqueira
Vidas vêm e vão em meio a essa aguaceira.

Pedro Vargas

domingo, 25 de janeiro de 2009

A Concha


O ar que me falta
É o ar que suspiras
O mar da tua falta
Está guardado na concha
O som da tua fala
É a onda que chega
distante
Que quebra
Na areia
Que mesmo
Tão longe
Se ouve
Daqui

A roupa do corpo
É só o que me resta
Que o resto,
já pegaste pra ti
Aguardo na praia calada
Num vento de já madrugada
O dia que vens me despir

Pedro Vargas

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Puberdade


Ah, como era linda a inocência dos anos 60. Maria tinha apenas quinze anos de idade quando perguntou para a mãe:

- Mãe, me explica um coisa?
-Que que houve, Maria, não vê que eu estou fazendo a comida?
- Mas é que isso tá me incomodando faz um tempão. - retrucou a menina.
- Tá bom, então. Mas fala rápido, você sabe que eu odeio ser incomodada na cozinha.

A menina, de repente, ficou calada como se tivesse perdido a coragem que ganhara três minutos antes, quando chegara na cozinha.

- Fala logo, Maria! Tá me deixando preocupada. - Falou a mãe diante daquele silêncio enlouquecedor que fazia a filha deixando a entender que o assunto era sério
- Sabe o que é mãe...

Essa demora para falar não era de costume. Geralemente a filha era curta e grossa, o que lhe dava, inclusive, um ar mal educado, que a mãe não gostava muito. Mas era melhor que aquela demora angustiante. A cada segundo de silêncio que passava, a mulher picava mais rápido os pimentões verdes, cheirosíssimos. A esta altura já parecia uma máquina, de tão rápido que cortava.

- É que eu tô sentindo coisas.

A máquina de cortar pimentões parou de repente. talvez fosse melhor ter continuado o silêncio. Pelo menos era mais produtivo.

- E.. que tipo de coisas, minha filha? - indagou a mulher com um certo medo da resposta que ia ouvir.
- Ah, num sei... um calor... - "Calor?!" - Que sobe... - "Sobe?!" - Pela virilha - "VIRILHA?!". Essas três palavras juntas numa frase não podia ser boa coisa. Sem dúvida a mãe conhecia a expressão "calor que sobe pela virilha" já usara como praticara inúmeras vezes, era sinônimo de "putaria". Palavra, certamente, imprópria para o horário nobre. Não queria ter ouvido tais palavras saírem da boca da filha, não assim tão novinha. Afinal eram de uma família tradicional tijucana. A menina estudava no Instituto de Educação, na Mariz e Barros, já cursava o primeiro ano do colegial. Definitivamente não era uma boa frase de se escutar da filha nessa idade.

Já tivera uma conversa desse tipo com ela antes, mas numa época que acreditava que a filha morreria casta. Lembrava como se fosse ontem que falara sobre como as abelhinhas colhem o néctar das flores com suas trombas fálicas, deixando, por muitas vezes, escorrer um líquido branco cheio de vida, e que a menina deveria tomar cuidado para que tal líquido não respingasse dentro de sua florzinha inocente senão uma cegonha certamente viria dentro de alguns meses. Logicamente a menina não entendeu bulhufas e passou a ter um pavor de abelhas.

Depois de terminado o momento de nostalgia em sua mente, perguntou para a filha:

- E quando você sente esse calor, Maria?
- ah, às vezes quando eu escuto o disco novo do Roberto Carlos - Como eram inocentes, as meninas dos anos 60 - às vezes quando eu to indo dormir, às vezes quando eu tô deitada na cama do Marcelo - OK, nem tão inocentes assim.

A mãe, que já estava nervosa, ficou atônita.

- E o que você faz deitada na cama do Marcelo?!? - Disse numa voz rouca, trêmula, quase inaldível.
- Ah, mãe, num sei. Às vezes a gente fica conversando, às vezes ele fala coisas no meu ouvido e começa a subir esse calor. Às vezes ele me mostra a minhoquinha dele. Não é muito grande não, já vi maiores, mas também não é a menor que eu já peguei. Às vezes ele fala que é o Dr. Ricardo, meu ginecologista, sabe? Então, ele fala que é o Dr. Ricardo e examina a mariazinha pra ver se não tem nada errado. Aí o calor sobe mais ainda. Às vezes ele bota a.... Mãe?!

A mulher encontrava-se, em estado catatônico, caída no chão. Maria logo correu ao telefone e discou para a emergência. Em alguns minutos os para-médicos chegaram e levaram a mulher para o hospital. A moça então pegou novamente o telefone. Dessa vez discou o número do escritório do pai.

- Pai?! Mamãe foi para o Souza Aguiar, desmaiada!!! - Gritou a menina ofegante, como que assustada.
- Ai meu deus! Eu estou indo pra lá! Ligo quando tiver tudo bem! Fica calma minha filha, fica calma que vai dar tudo certo! - falou o pai, tentando consolar a pobre menina.

A menina desligou o telefone, pegou-o novamente e discou uma terceira vez.

- Alô, Marcelo? Pode vir que deu certo.

Ah, como era linda a inocência dos anos 60...

Pedro Vargas

domingo, 4 de janeiro de 2009

Água na Boca (ou Lapa)


Meu pensamento meio torpe, bêbado, me impede de mentir. Não que eu minta, minhas verdades é que ficam ainda mais sinceras quando bebo.

- Gostosa - eu falo.
-Que?
- Gostosa - repito enquanto aperto aquela bunda enorme.

Fico pensando se não fui com muita sede ao pote. Mas ela gosta. Tanto que morde os lábios. Mas é mesmo uma gostosa, pra que que eu vou mentir? Gostosa gostosa gostosa.

Então eu provoco: finjo que beijo, mas não vou, puxo seus cabelos, lambo-lhe a orelha. Ela gosta. E morde os lábios de novo. Deve ter visto que eu gostei daquilo.

Sua beleza Renascentista me encanta. Seus seios fartos, bunda colossal, coxas pra ninguém botar defeito. Sua beleza carnal não diminui a beleza da face macia e escultural. É como uma típica escultura clássica.

Ela parece estar meio tonta também. Vai ver por isso faz essa cara de desejo, não devo ser tão gostoso assim. Quero levá-la pra casa, infelizmente ela recusa

- É muito cedo pra gente fazer isso - ela diz

Muito cedo é o caralho, eu penso, mas não sou tão sincero assim.

Ela tem que ir. Chama o taxi e vai. Meu caminho é longo. Saio dos arcos, vou pra cinelândia. De lá pego a Rio Branco. Viro na carioca, ando mais um pouco, e finalmente chego na praça XV. De madrugada não tem mais barcas, tinha me esquecido. Então vou até o ponto do 100. Ponho meus pés no ônibus e apanho o aparelho celular do bolso.

- Já chegou? - Claro que já chegou. Da lapa até a tijuca é um pulo, principalmente de taxi.
- Já. Acabei de sair do banho.
- Ah, tá. Depois a gente se fala então. Beijo. - e desligo.

"Acabei de sair do banho". Pra que dizer isso? Pra eu imaginá-la nua? Se foi por isso, conseguiu. Gostosa demais.

Da praça XV até o terminal em niterói não dá nem meia hora de madrugada. Penso em dormir. Melhor não, não quero perder nem um minuto da sua nudez gratuita na minha mente suja. Niterói chega num piscar de olhos. Tenho que ir a pé do terminal até em casa. Não é muito, mas eu estou cansado. Queria pegar um taxi, mas é melhor poupar dinheiro. "acabei de sair do banho". Gostosa, fez isso só pra me provocar. No meio da Amaral Peixoto paro e mijo. Geralmente espero chegar em casa, mas a vontade é grande. Não dá pra segurar. Sigo meu caminho pensando nela saindo do banho nua, molhada, atendendo meu telefonema. Gostosa.

Chego em casa quando está amanhecendo. Deito, durmo com a mesma roupa suja da noite, não ligo. O sono ganha de mim. Lembro da música do cazuza. O mundo inteiro acordando e eu indo dormir. Quando acordar eu tomo banho. "acabei de sair do banho". É com isso que sonho a manhã inteira. Acordo à uma da tarde pensando se não falei verdades demais noite passada. Melhor ligar pra ela de novo. Quem sabe não dou a mesma sorte de ontem.

-Alô?
- E aí vai fazer o que hoje?

Pedro Vargas


Perdoem-me os erros de português, que com certeza existem graças às novas regras de gramática que eu não aprendi ainda. Na proxima vez não ponho acento nenhum também!