sábado, 11 de setembro de 2010

O Homem que Amou a Lua

Olhei para o céu, como quem não quer nada e, como quem não quer nada, deparei-me com a Lua sorrindo pra mim, ao lado de uma estrela brilhante, num azul de céu que teima em anoitecer. Um sorriso largo que me lembrou alguém, não lembro quem (mentira). Fiquei me perguntando porque será que a Lua mora tão longe de mim? E a Lua deu uma risada daquelas, como se me escutasse lá do espaço intergalático. Era tão bela, a Lua. Como aquela pessoa que meu cérebro insiste em não lembrar quem é (mentira). Então a Lua me disse "vem cá". Peguei emprestado um foguete com a NASA e fui voando como um cosmonauta, sem pensar em nada. A lua me chamava porque o Sol, seu marido, tinha ido embora trabalhar pros japoneses.
Passei a noite em estado lunar, a beijar aquele sorriso, a provar daqueles encantos. Passei uma noite e tanto como amante da Lua. Foi quando, no céu, surgiu um amarelo, e o azul marinho passou a ser azul celeste. Caí lá de cima feito pipa avoada, ou gaivota destrambelhada (como se gaivota destrambelhasse). Quando dei por mim, em minha cama, uma baita dor de cabeça e um galo na testa, quase não acreditei.
Fui à Lua e voltei.

(Ando muito celestial ultimamente)
Pedro Vargas

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Noite da Bahia

Era noite da Bahia. Chovia do céu algo que não era propriamente chuva. Chovia o próprio céu sobre as pessoas e bichos e todas as coisas. A noite da Bahia é como ter todas as noites do mundo num lugar só. Uma magia sem comparação.
Esse mesmo céu que se chovia sobre os tantos seres baianos, tinha uma cor que se mesclava com o mar. Era, de fato, um céu completamente navegável por saveiros ou navios. Até mesmo, quem sabe, cachalotes e tartarugas poderiam nadar tranquilamente naquele céu. Mas na verdade quem nadava eram gaivotas e fragatas, atrás de peixes voadores.
A magia da noite baiana não vinha só do céu. Na verdade se tratava de algo muito além do céu. O cheiro da Bahia à noite é inenarrável. Uma mistura do dendê com o coentro e o camarão e o coco e os corpos femininos com cheiro de flores noturnas.
As mulheres bahianas em geral têm o cheiro da Bahia. E as negras. Particularmente, as negras são a noite da Bahia personificada. Em charme e beleza e sabor, as negras são a noite estrelada da Bahia.
E Nada se compara à noite estrelada da Bahia
Pedro Vargas

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

O Sabor do Céu


Degustei do sabor do céu dia desses, sob a forma de um torrone: uma espécie de céu peculiar, de uma dia nublado, embranquecido por nuvens, açucar e claras de ovo em neve, formando uma espécie de massa ou goma. Quando se mastiga, logo na primeira mordida, já se percebe:
- É céu.
É o céu em barras como só uma criança imaginaria. Mas quem descobriu tal doçura celeste dos dias nublados não foram os homens (nem nunca haveriam de ser). As formigas, seres especialistas em doce, anos-luz à nossa frente quando o assunto é açucarado, já descobriram isso há tanto tempo que até perdeu a graça, para essas diminutas criaturas, se empanturrar com tanto sabor. É bom que sobra mais pra gente.
Mas com tanto paladar em questão, fica uma dúvida no ar: qual será o sabor de uma noite estrelada?
O jeito é esperar que as formigas descubram.

Pedro Vargas

(dedico esse texto às minhas gorditas favoritas)