sábado, 13 de junho de 2009

Quando o sol nasce quadrado


Quando a viu
Com um cara
Do outro lado da rua
Instalou-se em si
A fúria

Três tiros bastaram
Para vê-los caindo no chão

Depois caiu em si
Mas era tarde
Via a sua liberdade
Escorrendo pelas grades
E paredes da prisão

Pedro Vargas

quinta-feira, 4 de junho de 2009

O Sexopata

Estava escuro naquele quarto de motel da Praça da Bandeira. Se não fosse pelo local onde se encontravam poderia-se jurar que aqueles gritos eram de dor ou sofrimento. Não eram.

Ela percebia, nos milésimos de segundo em que não estava gozando, que aqueles eram os maiores e melhores orgasmos que jamais tivera em toda a sua vida. Seu parceiro sabia exatamente o que fazer, que velocidade colocar na penetração, quando tocá-la e, o melhor de tudo, como fazê-lo. Isso sem contar o olhar. O homem parecia ter a maior calma do mundo. Transavam a três horas sem parar e ele não esboçara sequer alguma expressão de cansaço. Regenciava magistralmente aquela noite de pecaminosidades.

Ele saboreava cada centímetro quadrado do corpo feminino à sua frente. Sua face calma e serena não mudava por nada. Desde que começaram ele permaneceu com a fisionomia leve e tranquila. Não tinha muitos rodeios nem romantismo. Sexo, para ele, nada tinha com amor. Sexo era puramente sexo. Naquele caso, em especial, não havia amor. Muito menos afeto. Conhecera a menina algumas horas antes e ela lhe pareceu uma boa opção para matar o seu desejo carnal.

A menina parecia ver Deus a cada ir e vir que o pênis dele meticulosamente fazia em sua vagina. Quando, extasiada, berrou "ME BATE! ANDA, ME BATE!"

Bateu. Um tapa tão bem dado que carimbou sua mão em vermelho no rosto da moça. Fez-se um silêncio pesado no ar e então uma risada de satisfação. "BATE MAIS! BATE!". Deu mais três tapas em sua cara enquanto ela urrava de prazer. "ME ESPANCA, VAI! ME ENCHE DE PORRADA!". O homem, com a face mais doce do mundo, fechou a mão e começou a socar a cara da mulher, que agora urrava de dor. Ela suplicava "PÁRA! PÁRA!". Mas seus esforços eram em vão. O homem batia cada vez com mais e mais força. Era óbvia a intenção de matar.

Estranho era a contradição entre seus olhos e seus punhos. Enquanto um afundava seu crânio, esmagava seus olhos e quebrava todos os dentes em sua boca, o outro demonstrava uma compaixão tamanha que estranhou a moça.

Ele ouvia seus súplicos ficando mais baixos a cada soco na cara. Até que a menina parou de gritar. Sua face literalmente entrara. Um de seus olhos não existia mais de tão esmigalhado. Sentia tanta dor que nem notava mais. Foi quando ele parou de bater. Incrivelmente ainda havia um fio de vida no seu corpo esfacelado.

O homem, todo ensanguentado, entrou no banheiro. Deixara a porta aberta. Abriu a água quente do chuveiro. Esperou um tempo e finalmente entrou embaixo d'água. Olhou para o seu pau. Duro como rocha. Então olhou para a cama e a mulher sem expressão fitando-o. Começou a masturbar-se.

Curiosamente o seu rosto doce imutável não era mais o mesmo. Sua expressão era de um prazer descomunal. Sorria e gemia com o que a própria mão lhe proporcionava. Gozou.

Ficou ali olhando seu sêmen escorrer pelo ralo junto com o sangue alheio. Olhando. Olhando. O banho parecia não só lavar-lhe o corpo, mas também a alma. Seu rosto voltou a ter a calma de antes. Quando viu-se limpo fechou a água e secou-se.

Enquanto se vestia olhava para a moça com um sorriso tão doce que chegava a ser macabro. Viu o olho da moça piscar num tremendo esforço e teve pena. Ela continuava viva! Num ultimo ato de compaixão socou-lhe a face mais umas quatro vezes até não restar vida naquele corpo caído como um bicho morto. De fato o era.

O homem olhou para a moça mais uma vez. Deu um risinho baixo, pegou sua carteira na cabeceira da cama e saiu pela porta sumindo na madrugada.

Pedro Vargas