terça-feira, 2 de julho de 2013

Olavo e a Lava

A lava eleva morros
Olavo não releva os murros
Na sua cara
De soslaio ensaia uma guinada
Um sorriso resvala da boca
Um brilho emana do ser
Tateia tonto a teia
Que tremula em sua frente
Trama complicada
Aplica em si uma dose de gim
Escapa esfarrapado pela rua
Uma moça nua, sua noite de nupcias

A lava eleva morros
Aos milhões e milhões de anos
Olavo estupra a moça
A seu bel prazer
No ato no meio da rua
Nua de roupas e dignidade
Nem idade tinha pra dar

A lava eleva morros
Queima florestas
Calcina seres animados
Esculturas de pedra
Surgem, mas não sofrem

Olavo não se arrepende
Queima, ainda, a moça
Assim sem menos nem mais
Ajusta o volume do rádio
E sai desembestado
No seu corvette 76
Deixa na rua
O galão de querosene
Um grito contido
E um canto soprano

Com a alma lavada
Olavo se livra da lava
Que cauterizava sem cautela
A calma cela
Que o continha
Dentro dos próprios
Desejos

Pedro Vargas