Lembrava da sua infância. Peão. Video-game. Bola de Gude. Pique Pega. Desenho de manhã. Escola de tarde, que saco. Feriado, que alegria! Lembrava da adolescência. Quando sentiu o pau duro pela primeira vez. Cabelo no sovaco. Cabelo no saco. Primeiro amor. Pornografia na internet. Desenho de manhã. Almoço no quarto para acompanhar Liga da Justiça. Primeira transa.
Não foi tudo aquilo que diziam. Deve ter sido culpa dela. Foi atrás de outra. E outra. E mais vinte. E mais trinta. E não tinha mais controle do seu próprio pênis. Insaciável. Aos vinte e três anos já transara com praticamente todas as mulheres da sua cidade, as únicas excessões: sua mãe e sua avó.
Resolveu mudar-se para o Rio. Respirar novos ares. Procurar emprego. Faculdade. Quem sabe uma mulher que o satisfizesse. Afinal, daquele lugar já desfrutara tudo que podia desfrutar.
Chegou no rio sem eira nem beira, só com a malinha nas mãos. Dentro dela apenas cuecas, uma muda de roupa e camisas, de Vênus.
Lembrava do Rio. Do apartamento que conseguira no centro da cidade. Apertado. Do emprego numa lanchonete coreana. Aperto. Da praia. Das mulheres. De Ana.
Tivera muitos amores no Rio. Todos se perderam no tempo devivo à insatisfação sexual. Com Ana foi diferente. Talvez ela tenha sido o grande amor da sua vida, mas ele não gostava de rotulações. Nessa época já melhorara de vida. Mudara-se para Niterói. Trabalhava em um respeitado restaurante da cidade e cursava a faculdade de História na Universidade Federal Fluminense
Lembrava da UFF. Pré-história. Ritinha. História Oriental. Amélia. Revolução Francesa. Ana. Ana. Foda-se Napoleão. Foda-se a Guilhotina. Só tinha olhos para os olhos de Ana. Chegou a esquecer sua obsessão. Um dia numa conversa entre amigos, Ana presente, sentiu aparecer um certo clima entre eles. Saíram dali juntos. Ele e ela. Ela e ele. Foram tomar sorvete na praça do rinque. Lembrava até o sorvete que ela tomou naquele dia. De pistache. Achou estranho. Verde demais pra ser sorvete. Ficou pensando como seria um pistache. Será que era verde mesmo? Mistérios da vida.
Saía com Ana toda semana depois da aula de Revolução Francesa. Faziam todo tipo de programa. Passaveavam na praia de Icaraí, iam ao cinema, tomavam chope num bar ali perto da universidade. Tudo! Menos sexo. A pobre Ana já subia pelas paredes quando um dia perguntou:
- Porque você não quer me comer?
Ficou assustado com a pergunta assim na lata
-Porque... Porque eu tenho vergonha.
-Vergonha de quê, criatura?
-... Do meu pau.
O assunto terminou ali. Ele ficou aliviado. Não falara a verdade para Ana. Ele tinha era medo dela não o satisfazer como as outras. Estava muito feliz com a situação. O seu amor bastava. Não queria estragar tudo só por causa de sexo.
Um dia foram juntos a Paquetá. Passearam de bicicleta, almoçaram peixe frito com pirão. Pararam para namorar em um local mais reservado.
Lembrava da cor daquele fim de tarde. Vermelho-alaranjado. Lembrava do sol se pondo. E isso o fez lembrar do pedido de Ana:
-Deixa eu ver o seu pau.
Ana gostava de o deixar assustado. E sem graça
-C-c-como assim?
-Ué. Num tem ninguém aqui! Me mostra o seu pau, anda!
-Desculpa, Ana. Mas não dá.
- Olha só. gosto pra caramba de você, mas sem sexo não dá pra continuar. Ou você me come, ou eu te largo.
-Desculpa... Não dá mesmo.
- Então Tchau.
E assim terminou seu romance com Ana. Numa tarde de sol vermelho-alaranjado na ilha de paquetá.
Depois disso perdeu o gosto pela vida. Entrara no fundo do poço. Lembrava do fundo do poço. Bebida. Cachaça. Dias cinzas. Cinza. Foda-se Faculdade. Foda-se Napoleão. Foda-se tudo.
Preferia não encontrar Ana. Estava sempre com outros caras satisfazendo seus desejos carnais. Pensava agora como sexo era uma merda. Quando fazia não gostava. Quando não fazia, não gostavam dele. Morria de ciúmes de Ana. Foi aí que percebeu como Niterói É uma cidade pequena. Ia na praia, encontrava Ana. Ao cinema, lá estava ela. Na praça, encontrava Ana tomando sorvete de pistache. Sempre acompanhada. Se remoía por dentro pensando nas perversidades sexuais que Ana fazia com seus inúmeros namorados. Resolveu, naquele instante, que levaria a vida normalmente sem Ana dali em diante.
Não conseguiu. Ana tomava sua cabeça. O ápice de sua loucura de amor foi na prova final de Revolução Francesa. Esquecera-se de Danton, de Robespierre, de Marat, do Iluminismo, de Luís XVI, da guilhotina, dos Jacobinos, de Napoleão. Sua resposta para todas as perguntas era apenas uma única palavra: Ana. A última questão da prova era uma redação onde o tolo apaixonado escreveu uma linda declaração amorosa.
Conclusão: Repetiu Revolução Francesa. A prova rodou a universidade inteira. E agora ele era motivo de chacota por todo o campus do gracoatá. por onde passava ouvia risos e engraçadinhos gritando "Vive la France!". Ficou conhecido como Revolução Francesa.
As férias chegaram e voltou para a sua cidadezinha. Visitar os pais. Encontrar antigos amigos. Reviver. Dormir de tarde na rede. Ouvir os seresteiros de noite na praça. Contar histórias da cidade grande. Do Rio de Janeiro. Da praia. De Niterói. De Paquetá. De Ana. Ana. Ana.
No dia seguinte voltou para niterói apressado. Os pais não entenderam nada. Ele só falou:
-Vou mostrá-la o meu pau!
E foi-se embora de ônibus.
Quando chegou em niterói, mal desfez as malas e ligou para Ana. Chamou-a para tomar sorvete na praça.
-Só se for de pistache. - Riu ela.
-De pistache, então.
Encontrou-se com ela na praça como combinado. Conversaram sobre a vida, as férias. A prova tivera um lado bom afinal. Assim como todo o campus vira, Ana também a vira.
-Revolução Francesa, hein?
-Pois é - Riu ele
- E você pensa aquilo mesmo?
- Por que? É ruim?
- Não! É a coisa mais linda que eu já li na vida!
- Ana, Eu te amo! Eu quero te mostrar o meu pau, Ana!
Lembrava muito bem daquela tarde em que voltara para Ana. Azul e verde. Azul do céu, verde do pistache.
Lembrava dos dias que se seguiram depois da volta com Ana. Sol. Férias. Praia. Amarelo. Cinema. Pistache. Verde. Sexo. De quatro. Oral. meia-nove. Amor. Felicidade. Satisfação. Alívio. Felicidade. Enfim uma revolução. A volta com ana foi anunciada até no jornal da universidade com a manchete "Fim da Revolução Francesa!". Vencera enfim. Terminara o curso de história e começara a lecionar em um colégio estadual em niterói. Sua vida se estabelecia ao lado de Ana.
Agora via-se na poltrona de casa com uma aliança guardada na caixinha escrito "monte carlo", lembrando de toda a sua vida até aquele momento. Pensava no que viria pela frente. Cabelo branco. Velhice. Amor. Filhos. Pai. Avô. Amor. Filha. Vida. Família. Amor. Morte dos pais. A sua própria. Amor. Sorvete de pistache. Sexo. Verde. Amor. Revolução Francesa.
Pedro Vargas
3 comentários:
Adorei =)
OLha só, o menino dando pinta de escritor...
COmo sempre, muito bom, acompanhando sempre...
Lemrava-se muito bem do acompanhar: azul, comop o fundo do blog..
rsrsrsrsrsrsr
ABssssssss
Vive la France!
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