segunda-feira, 23 de maio de 2011

Vizinhança


Fodem no andar de cima. E pelo andar da carruagem, não acaba tão cedo, a gritaria. Fodem, enquanto busco, no teto, uma esperança de sonho, ou sono, o que vier primeiro. Fodem, enquanto caço na TV algo que interesse à minha retina. Noite difícil. Bate uma leve inveja do que acontece lá em cima. Ouço os barulhinhos, a cama que range sem vergonha alguma. Como se a cama houvesse de ter vergonha. A cabeça viaja longe no negrume da noite e, no entanto, não alcança os braços de Morfeu. Parece que vou continuar escutando gemidos. Mesmo abafados, por um travesseiro molhado de suor, os gemidos ganham liberdade sonora e vêm se aconchegar no meu ouvido. Conversinhas sacanas. Pura matéria prima para um poema de sacanagem. Escuto tudo. Já que o sono não chega, aproveito pra conhecer melhor meus vizinhos. 

Pedro Vargas