Impressionante como tudo
aconteceu em uma fração de segundos. Tomava minha cerveja tranquilamente,
rodeado de amigos a falar de assuntos irremediavelmente desinteressantes quando
vi o peitinho lá, dando sopa no meio do bar. O tomara que caia por certo já havia
caído, há não muito tempo, deixando descoberto o lindo peito. Um peito assim humilde,
pequeno, a rodela rosada com um biquinho saliente, provável que pelo frio
dessas noites de outono. Era um peito só, sortudo, que conseguira escapar
daquela prisão cem por cento algodão.
O mamilo, polêmico, me encarava,
jogando mensagens telepáticas em minha cabeça. “Viva a liberdade dos mamilos!” “Não
à opressão mamilar!” “Mais investimentos contra o câncer de mama!”. Por certo,
um mamilo revolucionário. “Deixe o peitinho respirar!” “Sutiã nunca mais!”. O
peito conseguira a liberdade e agora tentava mostrar a todos o poder de um
farol aceso.
O peito acendia em mim um desejo.
Via, ali, uma boa oportunidade de lambê-lo. Meu corpo rapidamente se deu conta
que aquele peito era uma delícia e eu, ético e concentrado, vivia um dilema
mortal, um embate ideológico se travaria em meu encéfalo. Tenho que avisar a
moça que o peitinho dela está de fora! Tenho que avisar a moça que o peitinho
dela é lindo! Tenho que avisar a moça que o peitinho dela dá de mil a zero no
peito murcho da minha mulher...
O poder psíquico do peito cada
vez mais se apoderava da minha consciência, controlando meus atos. Já pensava
em como faria para agarrá-lo sem ser comprometido, aquele peito lindo tão leve,
suave, inocente. O peito tinha poderes mágicos, lançava feitiços sobre o meu
olhar, me deixava extasiado, pensando, travado, querendo agir, tomar uma
decisão: A decisão errada. Mas já não podia controlar tanto desejo que o
peitinho trazia, queria, ia até lá e daria uma lambida em homenagem à coragem
que aquele peito tinha de se mostrar, se rebelar contra o controle da sociedade
cristã ocidental, repressora da sexualidade! Um peito não pode ficar sozinho
nessa luta! Um peito lindo desses precisa do auxílio do seu peito irmão! Onde
está o seu companheiro? PEITOS UNIDOS JAMAIS SERÃO VENCIDOS! PEITOS ÀS ARMAS!
PEITOS PEITOS PEI---
Saí do meu transe com um estalo
forte e depois uma quentura no meu rosto. Um tapa na cara. A moça falava
impropérios e me apontava o dedo na cara. Não ouvi nada do que ela falava.
Olhei para os lados e todos me olhavam gargalhando.
Não me lembro nem da moça botando o
peito de volta, nem da moça andando em minha direção. Não me lembro sequer do
rosto da moça! Mas aquele peito é inesquecível como o tapa no meu rosto. Os dedos marcados na minha cara como um carimbo
e as gargalhadas. Catava no ar, calado, os cacos do meu rosto para que pudesse
voltar à vida social. Bebi a cerveja na minha frente: Quente. A moça fora
embora, Nunca mais a veria, nem nunca reconheceria. A não ser que o peito
estivesse à mostra novamente. A moça não me interessa, só mesmo o peito. Foi
amor à primeira vista. E tenho certeza de que o próprio peito também me queria.
Tem amores que a gente nunca
esquece.
Pedro Vargas