quarta-feira, 28 de agosto de 2013

À tarde

Te esperei por aí,
Tu custou a chegar.
Era tanta demora
Que tardeei a tarde inteira
E tu nem teve
A idéia de dizer
Que  tardaria.

Passaria primeiro
Na padaria.
Um maço de cigarros,
Três baguetes,
Mortadela em fatias.
Café da manhã
Ao meio dia.

No meu tamanho ócio
Atentei às rachaduras
Donde crescia um talo
De pé de árvore.
Avistei tremendos detalhes.
Retalhos do cotidiano
De formigas, besouros,
Cigarrinhas.
Andei de seis patas,
Antenado a tudo.

Até que seres vieram a mim.
Me souberam abordar.
Teceram prosas maravilhosas.
Deixaram-me curioso.
Levaram-me a longe de ti,
Até que enfim.

Tu vieste?
Nem percebi.
Afinado com os diminutos
Me enfiei em cada buraco
Dos quais cantigas milenares,
Artes rupestres, artigos de magia,
Tanto se fuçava que se achava.

Fui ali e a luz me lavou.
Lavadeiras lúgubres
Puseram-se a me pousar
E você lá no mundo teu

Assim deixei de ser ateu.
Tornei-me, então, eu
Colega de fadas
E tantas outras criaturas esquisitas.

Pedro Vargas