sábado, 27 de fevereiro de 2010

Cinza

Sinto falta de alguém aqui comigo
Um amor, um amigo
Algo que já nem sei mais, muito bem,
O que seria
Sinto falta do meu violão, da música,
Da fotografia
Da cerveja na esquina
Da coceira na cabeça
Falta de tempo
Falta do tempo
Do que passa,
E também do que já passou
Do calor do fogo humano
Do frio na barriga
Sinto a mesmisse de uma rotina
Tudo que eu não queria
Sinto falta da interpretação
De outrem sobre a minha pessoa
Tão besta e solitária
Nesse cinza que abre o dia
E fecha a noite

Pedro Vargas

sábado, 20 de fevereiro de 2010

De Acaso

Mas que ingratidão
Encontrar-te, assim assim
Mais pra lá do que pra cá
Com um homem a beijar-te
A boca

Eu que sempre fiz
O tipo intelectual
Achei que, por um triz,
Iria te conquistar
Com poemas de amor
E brincar o carnaval
Acabei por me dar mal
Quando fui interpretar
A louca

Vi-me, mulher, então
Sozinha na multidão
Fazendo encenação
De quem tanto fez fingir
Que o amor resolveu partir
Mas na verdade ele está lá
Sempre pulsante no coração
Sempre incessante na pulsação
Tão complicado de entender
Tão machucado ao receber
Um não

Pedro Vargas

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Poema da Quarta-Feira de Cinzas

Foi assim, numa quarta-feira de cinzas
O rapaz sentado no meio-fio
Aguardando a chegada do seu lotação
Viu pelo chão mil serpentinas
Jogadas em meio a confetes
E anéis de lata
Canções que ainda no ar
Pairavam e cantavam
Sobre um Pierrot que sofria
Os males do amor

Viu assim de supetão
Reviver a sua alegria
Renascer a brincadeira
Quando apareceu na sua visão
O bendito lotação
Então o sonho desabou
Lá do céu
Despejando ao léu
Esse pobre rapaz
Se não for por bem
Então que seja por mal
Foi-se embora o carnaval

Pedro Vargas

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

O Homem que Mata

Abriu a maçaneta com requinte de gatuno
Puxou o trinta e oito com um porte de assassino
O matador, com indiferença nos olhos
Meteu um balaço certeiro na cabeça do menino
Uma morte limpa e fria, como de se esperar do bandido

O homem que mata, já matava há tempos
Desde criança, quando corria, brincava
Já matava
Passarinhos e Morcegos não escapavam do bodoque
aos doze ganhou a glock
E assassinou, a sangue frio,
O garoto que ficava de deboche
Era assassino por natureza
Nos seu olhos a frieza
Que só tem quem é morto
Ou quem mata

Cresceu entre bandidos
E contraventores da lei
No seu ramo empregatício
Era tido como um rei

Até que viu um garoto
Quebrando o crânio de outro
Usando uma madeira
Que no chão encontrara
Mais tarde, atirou no menino
Pra que não fizesse, o destino,
Mais um homem que mata

Pedro Vargas