domingo, 28 de novembro de 2010

Esquisito morar numa estrela
Viver de céu
E morrer de saudades
Saudade da Lua
Da gravidade
Da vida de terráqueo

Esquisito morar numa estrela
Viver de ponta-cabeça
pra não queimar os pés

Estranho,
O brilho não me incomoda mais
Os raios cosmicos de estrela
São como música para os olhos
Do poeta espacial

Estranho,
O Sol parece tão distante
A via lactea é um poema
Uma via de leite
No meio do cosmos
No meio do nada

Esquisito morar numa estrela
Pensar na beleza
Das flores de Saturno
Nos ventos de Urano
Nos pinguins de plutão

Uma estrela tão longe de tudo
Que tudo parece formiga
Miúdo na imensidão

Uma estrela, casinha de luz
No quintal, plantação de planetas

Uma estrela, meu lar

Pedro Vargas

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Os mágicos são todos irmãos mais velhos

Já disseram por aí que ser mais velho é ruim, é chato porque você deixou de ser o único. fica essas neuras na cabeça.
é as vezes fica, mas você tem alguém do teu lado de alguma maneira.
Você acaba sentindo que vai virar o Scar
Porque sabe que o Scar é irmão mais velho do Mufaza. sabe né?
Mas é bom a beça
comer com o irmão é o momento que nos sentimos mais animais. o momento que o instinto fala mais alto.
Me sinto um macaco quando to digitando. dá pra ver que no fundo no fundo eu sou um macaco com razão. é a única diferença. ser um macaco com razão.eu percebo nesses momentos como é bom ter o instinto.
Por isso que meu irmão faz bem. Por isso que a gente é como algum tipo de desenho estranho. Como se o Simba tivesse irmão. Rei Leão é o meu filme favorito.
queria muito ver um filme do 007 agora
me sentir o James Bond
Me disseram que a bondgirl é a Joss Stone. uma gata que canta na minha janela. Dizem, só dizem. Parece que virei gato de vez.
Misturei minha lingua. Me lambi pra limpar. é como se meu animal fosse mesmo um leão, e não um macaco que pensa. Eu agora sou um leão. Meu irmão seria um escorpião?
seria isso mesmo?
talvez seja isso que os signos querem falar
o SIgno da gente é nosso animal interior....
Que maluquice pensar que uma balança seria um animal. Um aquario.
Parece o Mysterio do Homem-Aranha. Ele é mesmo aquariano. O duende verde é leonino. O homem aranha é Queliceromorpha. e é aí que entra a poesia animalesca.
Um dia escreverei a Taxonomia poética dos bichos. Mas até lá, me contento em ser animal apenas. Porque de bicho, só o grilo. e mais nada.
O grilo que canta atrás de mim. Um trecho de tudo que é bonito
Grilo
A onda que bate no canto do folhiço. è um grito
Grilo.
Vai de encontro ao que digo, pisco,
Grilo
è coisa linda do mundo, de tudo
Mudo.
Nada escuto
Além de grilos.
Acasalando.
Esse barulho de grito. é como um gemido de foda.
Estranho pensar, animal como poema.
Parece que o mundo gira de cabeça pra baixo, num redemoinho.
Caminho pra chegar em casa
Carapaça
coisa de besouro
E de grilo
È que nem casca de caracol
dura
que guarda um bicho
mole igual molusco.
Molusco
Pensa na origem da palavra.
Será que Molusco significa Algo mole?
Vai ver aqueles gregos doisos já pensavam nisso muito antes.
eram todos crianças, os gregos,
se pensassem assim.
Eram, então tão quanto sou também
Criança molusca
de carapaça calcária
sol caracol, ou caramujo?
Existem dois tipos de gente
Aqueles que falam caracol
E aqueles que falam caramujo.
eu estou em cima do muro
Olhando o bicho passar.
Caramujeando,
A caracolizar
Caracolizo-me, como se fosse caramelo.
Os caramelos são moluscos,
Grandes bichos do mar.
Caramelo, Presidente,
Tudo molusca,
Poema de cabeça
De tentáculo
Tinta, canção bonita
Lula, cefalópode
canção bonita da natureza.
Agora eu vou dormir,
E sonhar com gosma de caracol
Que pode ser até muito bonito se
E somente se
Você for um poeta

Os mágicos são todos Irmãos Mais Velhos.

Pedro Vargas

terça-feira, 9 de novembro de 2010

Verão, Naquele Dia

Aquele dia era verão. Não porque os pássaros resolveram solfejar seus cantos da maneira mais sublime. Não pelos insetos voare agitados, com suas asas transparecidas, pra lá e pra cá. Não pelo fato de as formigas catarem só as folhas mais verdes dentre as folhas verdes. Não pelas garças sentirem calor e preguiça, daquelas preguiças gostosas que só dá num dia lindo de verão.
Aquele dia era verão. Não pelo cheiro salgado do dia, nem pelo azul que se fazia no céu pela manhã. Daquele tipo de manhã que a gente achava que só veria num desenho animado.
Era verão, mas não porque as praias chamavam pelo nome das pessoas cada vez que uma onda quebrava na areia.
Era verão, mas nada tinha a ver com a posição da terra no eixo de translação do planeta em torno do sol. A astronomia e seus cálculos matemáticos, pragmáticos, infelizmente passaram batidos daquele dia de verão.
Era verão, e seria verão mesmo se as gaivotas não estivessem flutuando nos ventos dos sopros, das flautas, das asas de borboletas. Mesmo se as cigarras resolvessem não cantar, enquanto fantasiavam-se com árvores. Mesmo se as flores mais lindas do mundo resolvessem não dar frutos e mesmo se o dia estivesse nublado. Mesmo que não fizesse o calor que fazia. Mesmo se o ar respirável não se confundisse com água do mar. Seria verão mesmo na Sibéria, ou na Groenlândia. Mesmo se pinguins e focas enaltecessem a minha visão sobre um gelo de cor inexplicavel. Mesmo ali, seria extremamente verão.
Era verão, aquele dia. Ardia um sol de rachar o chão dentro do peito. Daqueles sois que iluminam de noite e deixam insones os poetas. Um sol que teimava em arder mesmo sob um banho gelado. Um sol que sonhar picolés de maracujá. Um sol de se imaginar a felicidade tomando banho de rio. De se imaginar poeta se imaginando crinça indo à praia. Sentindo os pés grudando areia. Um sol de se querer oceano todo sobre a cabeça.
Era verão. E mesmo que os sábios especialistas se dissessem contrários a isso, seria verão. Era verão porque o sol viera acordar o poeta de madrugada. Era verão porque as lembranças abriram a janela deixando passar aquele vento vespertino de canções de Alceu Valença.
Era verão pois chovia cajus.

Pedro Vargas