domingo, 8 de março de 2015

Da Fragmentação Amorosa

Não se fala nada de novo do amor
Discursos guardados, cheirando a naftalina,
Jazem no guarda roupas
(Prontos a vestir qualquer palavra
que se julgue digna)
Esperando a ordem meia boca de certos
Poetinhas, que surgem aos montes
Pelos becos da cidade

Já não me vale nem os poucos
Nem os tantos
Não vale a pena nenhuma palavra?

reconheço o amor em outros
Cacos de amor espalhados
Na imensidão demográfica
Da megalópole atroz

Mas é um tal poema de amor voando
aviõezinhos de papel teleguiado
Causa interferência no radar
Poético, patético, profetizador

Já não se encaixam adjetivos para o amor
Mas mesmo assim teimamos
Em amor isso
Amor aquilo outro
O amor está semânticamente fragmentado
(aquilo que eu falava antes sobre cacos)

Mas no fim do poema,
o verso dizia sempre qualquer coisa
sobre corações roubados, saltitantes
Ensanguentados, em carne viva
Inestimáveis, escandalizados
Vorazes, voluptuosos
Acometidos por uma sede macabra
Por poetinhas de meia boca
Que se repetem e se aliteram
Irredutivelmente
Apaixonados

Pedro Vargas