Discursos guardados, cheirando a naftalina,
Jazem no guarda roupas
(Prontos a vestir qualquer palavra
que se julgue digna)
Esperando a ordem meia boca de certos
Poetinhas, que surgem aos montes
Pelos becos da cidade
Já não me vale nem os poucos
Nem os tantos
Não vale a pena nenhuma palavra?
reconheço o amor em outros
Cacos de amor espalhados
Na imensidão demográfica
Da megalópole atroz
Mas é um tal poema de amor voando
aviõezinhos de papel teleguiado
Causa interferência no radar
Poético, patético, profetizador
Já não se encaixam adjetivos para o amor
Mas mesmo assim teimamos
Em amor isso
Amor aquilo outro
O amor está semânticamente fragmentado
(aquilo que eu falava antes sobre cacos)
Mas no fim do poema,
o verso dizia sempre qualquer coisa
sobre corações roubados, saltitantes
Ensanguentados, em carne viva
Inestimáveis, escandalizados
Vorazes, voluptuosos
Acometidos por uma sede macabra
Por poetinhas de meia boca
Que se repetem e se aliteram
Irredutivelmente
Apaixonados
Pedro Vargas
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