E disse o destino que seria ela sereia
Tão menina, ainda.
Tanto acreditou que nadou, nadou
E nada
Pobrezinha
Cresceu descadeirada
De tanto nadar e não dar em nada
Com o corpo jogado na praia
Como areia, se viu que sorria
Que servia ser só moça
Que ser peixe
É salgado demasiado
Que ser, então?
Ei-la aí a pergunta
Que não cala.
Eis que a reles menina
Desatina a gargalhar
Ser ou não ser sereia?
Ou engolida por baleia?
Ou engolir uma bala?
Ou embalar uma valsa
No meio do fundo do mar?
"Serei eu o que quiser"
Disse ela em tom de desafio
"Se o destino disser: serás isso!
Aí é que serei justamento o contrário
Por puro gosto em ver
A cara de paspalho
Que o destino tem quando se irrita"
E foi nessa desdita que deixou pra trás
A menina, a sereia, ou ilusão qualquer
Para tornar-se mulher
terça-feira, 22 de setembro de 2015
domingo, 2 de agosto de 2015
HUMUS
Conheço homens de todos os tipos
tipos e credos, incrédulos, incontroláveis.
Há os homos, os héteros, os trans,
Homens transitam por diversos estados,
Territórios, traços, trejeitos,
Tamanha é a potêncialidade do seu ser.
Ser humano,
Não sei sê-lo sem pensar o que seria
Des-ser Humano,
Descer, ser menos, silêncio
No lugar da expressão.
São tantos os seres dentro de mim,
Não admito ser apenas humano,
Já que vivo desumanizado,
Demasiado o estímulo de negação.
Eu era homem, fui castrado.
Costuraram minha boca,
Calaram o meu falo.
Agora falam por mim,
Escolhem minha roupa,
Definem meu sotaque,
A música que ouço,
Mesma comida pronta,
A mesma programação.
Um ataque, um último, um íntimo.
A subjetividade, coitada,
Moldada pelo meio que vive
Convive com covardia,
Reproduz selvageria,
Humano é tudo que me falta
Seria humano se não fosse menos
Seria menos se não fosse humano
O que me distorce a humanidade
Também é, e principalmente isso,
O que me torna digno dela.
A Humanidade, idade das idéias,
Cidades, cinismos, sintomas,
Sentinelas, Sentimentos,
Centelhas, centímetros.
Sem tetos, Sementes,
Semântica, Semáforos
Seres sem sentido
Seresteiros, certos de si,
Seremos mesmo humildes
Para ser Humanos?
Pedro Vargas
tipos e credos, incrédulos, incontroláveis.
Há os homos, os héteros, os trans,
Homens transitam por diversos estados,
Territórios, traços, trejeitos,
Tamanha é a potêncialidade do seu ser.
Ser humano,
Não sei sê-lo sem pensar o que seria
Des-ser Humano,
Descer, ser menos, silêncio
No lugar da expressão.
São tantos os seres dentro de mim,
Não admito ser apenas humano,
Já que vivo desumanizado,
Demasiado o estímulo de negação.
Eu era homem, fui castrado.
Costuraram minha boca,
Calaram o meu falo.
Agora falam por mim,
Escolhem minha roupa,
Definem meu sotaque,
A música que ouço,
Mesma comida pronta,
A mesma programação.
Um ataque, um último, um íntimo.
A subjetividade, coitada,
Moldada pelo meio que vive
Convive com covardia,
Reproduz selvageria,
Humano é tudo que me falta
Seria humano se não fosse menos
Seria menos se não fosse humano
O que me distorce a humanidade
Também é, e principalmente isso,
O que me torna digno dela.
A Humanidade, idade das idéias,
Cidades, cinismos, sintomas,
Sentinelas, Sentimentos,
Centelhas, centímetros.
Sem tetos, Sementes,
Semântica, Semáforos
Seres sem sentido
Seresteiros, certos de si,
Seremos mesmo humildes
Para ser Humanos?
Pedro Vargas
quinta-feira, 30 de julho de 2015
Madrugada
Quando você se vai
Logo chega a madrugada
E bate a porta, me seduz
Com luz de estrelas,
Maquiada de luar.
Perfumada com cachaça
Leva-me à praça mais próxima
Se aproxima e me beija sem parar.
Leva de mim a mocidade,
Lava-me o corpo da saudade,
Livra-me o peso das costas,
Ela gosta de me devorar.
E lá vai a madrugada
pelas ruas clareadas
do sol que avisa a manhã.
Parte sem dar comentário
Do seu largo itinerário,
Vai cumprir o fuso horário,
sai de forma repentina.
Livre e lúcida menina
Deixou minha companhia
Para amar outro poeta
Que reside na argentina.
Pedro Vargas
Logo chega a madrugada
E bate a porta, me seduz
Com luz de estrelas,
Maquiada de luar.
Perfumada com cachaça
Leva-me à praça mais próxima
Se aproxima e me beija sem parar.
Leva de mim a mocidade,
Lava-me o corpo da saudade,
Livra-me o peso das costas,
Ela gosta de me devorar.
E lá vai a madrugada
pelas ruas clareadas
do sol que avisa a manhã.
Parte sem dar comentário
Do seu largo itinerário,
Vai cumprir o fuso horário,
sai de forma repentina.
Livre e lúcida menina
Deixou minha companhia
Para amar outro poeta
Que reside na argentina.
Pedro Vargas
segunda-feira, 8 de junho de 2015
Ode à Multiplicidade
Quem sois?
Quem cis
Quem trans
Forma um mundo
Mais diverso
Quem cis
Quem trans
Forma um mundo
Mais diverso
Veste-se o verso
De saiote.
Pinta-se o lábio
Como os sábios.
De saiote.
Pinta-se o lábio
Como os sábios.
Sou homem:
Só de vez em quando.
Sou mulher
Enquanto escrevo.
Sou Femenino,
Apesar do que transpareço.
Só de vez em quando.
Sou mulher
Enquanto escrevo.
Sou Femenino,
Apesar do que transpareço.
Ai de quem conter-me
Num reles rótulo
Aprisionado.
Sou cis
Sou trans,
Tornado.
Num reles rótulo
Aprisionado.
Sou cis
Sou trans,
Tornado.
Tornando o seu
Medo infundado.
Afundando o binário,
Fundando o Ode
à Multiplicidade
De estados.
Medo infundado.
Afundando o binário,
Fundando o Ode
à Multiplicidade
De estados.
Transitando
Por caminhos
Inusitados.
Sou de Vênus
E de Marte.
Sou a Lua
E todos os Sóis.
Por caminhos
Inusitados.
Sou de Vênus
E de Marte.
Sou a Lua
E todos os Sóis.
E tu,
Quem sois?
Quem sois?
Pedro Vargas
domingo, 8 de março de 2015
Da Fragmentação Amorosa
Não se fala nada de novo do amor
Discursos guardados, cheirando a naftalina,
Jazem no guarda roupas
(Prontos a vestir qualquer palavra
que se julgue digna)
Esperando a ordem meia boca de certos
Poetinhas, que surgem aos montes
Pelos becos da cidade
Já não me vale nem os poucos
Nem os tantos
Não vale a pena nenhuma palavra?
reconheço o amor em outros
Cacos de amor espalhados
Na imensidão demográfica
Da megalópole atroz
Mas é um tal poema de amor voando
aviõezinhos de papel teleguiado
Causa interferência no radar
Poético, patético, profetizador
Já não se encaixam adjetivos para o amor
Mas mesmo assim teimamos
Em amor isso
Amor aquilo outro
O amor está semânticamente fragmentado
(aquilo que eu falava antes sobre cacos)
Mas no fim do poema,
o verso dizia sempre qualquer coisa
sobre corações roubados, saltitantes
Ensanguentados, em carne viva
Inestimáveis, escandalizados
Vorazes, voluptuosos
Acometidos por uma sede macabra
Por poetinhas de meia boca
Que se repetem e se aliteram
Irredutivelmente
Apaixonados
Discursos guardados, cheirando a naftalina,
Jazem no guarda roupas
(Prontos a vestir qualquer palavra
que se julgue digna)
Esperando a ordem meia boca de certos
Poetinhas, que surgem aos montes
Pelos becos da cidade
Já não me vale nem os poucos
Nem os tantos
Não vale a pena nenhuma palavra?
reconheço o amor em outros
Cacos de amor espalhados
Na imensidão demográfica
Da megalópole atroz
Mas é um tal poema de amor voando
aviõezinhos de papel teleguiado
Causa interferência no radar
Poético, patético, profetizador
Já não se encaixam adjetivos para o amor
Mas mesmo assim teimamos
Em amor isso
Amor aquilo outro
O amor está semânticamente fragmentado
(aquilo que eu falava antes sobre cacos)
Mas no fim do poema,
o verso dizia sempre qualquer coisa
sobre corações roubados, saltitantes
Ensanguentados, em carne viva
Inestimáveis, escandalizados
Vorazes, voluptuosos
Acometidos por uma sede macabra
Por poetinhas de meia boca
Que se repetem e se aliteram
Irredutivelmente
Apaixonados
Pedro Vargas
terça-feira, 24 de fevereiro de 2015
Os Tetos
Os telhados
Olhados de cima
São retrato do trato
Que o teto recebe
Olhados de cima
São retrato do trato
Que o teto recebe
Trasteja, Troveja
E a telha trepida
O Sol lá em cima
E a telha se aquece
É vermelha, a cerâmica
Do mesmo barro
Que, outrora, a nós
Moldara
E a telha trepida
O Sol lá em cima
E a telha se aquece
É vermelha, a cerâmica
Do mesmo barro
Que, outrora, a nós
Moldara
Quanta maldade
Mudar tão bela e viva
Matéria
Pelo zinco ranzinza
Ou o amianto
Abjeto
Fico em prantos
Quando vejo teto cinza
Melhor, até, seria
Um teto preto
Mudar tão bela e viva
Matéria
Pelo zinco ranzinza
Ou o amianto
Abjeto
Fico em prantos
Quando vejo teto cinza
Melhor, até, seria
Um teto preto
Pedro Vargas
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015
Queda Livre
Bem lá onde o sapo canta
Até onde a vista alcança
Enlaço a luz do sol
Bebi da água sagrada
Embriaguei minha alma
Nas dunas do seu lençol
E eu guardei aquele cheiro doce
Daquele cheiro que você me trouxe
Aquele dia tinha cor de céu
E tinha dias que você não vinha
E tinha coisas que você não via
Era eu voando num avião de papel
Voando raso
Rasgando aurora
Era um minuto
Pareciam horas
Chovia dentro
E o Sol lá fora
Era desbunde
Desmanche
Deslize
Deserto
Era certo te ver
na multidão
Era seco
Era doce
Era vinho
era pássaro
Caído do ninho
Alçando vôo
Na escuridão
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