segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Feliz Ano Novo

A rede à noite
O sono que não chega
O tempo que não passa
Amanhece o dia cinza
E esse céu que ameaça desabar
Já é quase janeiro no Rio
E ainda nem pensei
Nas promessas pro ano que vem

Pedro Vargas

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Chuva de Mangas

É por tua doce suculência
E pelos fiapos entre os dentes
E pelas tardes lá no alto
Catando-te, chupando-te
Até o caroço
Até que não sobre uma só gota
Do teu suco Inconfundível.

É pelo abrigo que são teus pés
Durante as chuvas veraneias.

É pelo susto que é
Ver cair você
Sobre nossas cabeças.

É pela delícia que é
Encontrar você
Jogada no chão,
De repente,
Ainda inteira.

É por tudo isso
E mais um pouco
Que escrevo este poema.

Pedro Vargas

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

As Garças


A tarde passa, sem graça,
E lá vão as garças, em massa,
No caminho de volta pra casa

Pedro Vargas

domingo, 14 de dezembro de 2008

Seus Olhos Frágeis

Seus olhos frágeis, pálidos, lindos, me impressionavam. Pareciam as chamas trêmulas de duas pequenas velas na escuridão.

Seus olhos.. por que tão medrosos? por que tão tímidos?

Eram lindos, de fato. Castanhos, enormes. Via o meu reflexo dentro deles como se num espelho. Sentí-me bem com tais câmeras me fotografando, analisando-me de cima para baixo.

Eram lindos, de fato. Mas eram trêmulos, inocentes. Sentí-me Deus ao prender a atenção daqueles olhos lindos. Sentí-me Deus

Olhos como aqueles eu nunca mais veria, mas nem de perto precisaria vê-los novamente. Guardei na memória aquela imagem, como numa pintura.

Seus olhos frágeis como chamas trêmulas, pálidos como o fogo das chamas trêmulas, castanhos como os meus. Eram lindos, de fato.

Pedro Vargas

sábado, 13 de dezembro de 2008

O Poeta Descalço

O poeta Pôs os pés no chão. Sentiu a textura áspera daquele concreto em que pisava. Era seu chão, de mais ninguem! Sentia-se orgulhoso por conseguir aquele cantinho para si. Seu próprio chão, quem diria!

Gostou tanto do seu novo chão que deitou-se, nu, por ali, só para sentir aquela liberdade por todo o seu corpo. Uma sensação inenarrável!

Permaneceu deitado por horas sentindo aquilo passar pelo seu corpo inteiro. Pelo tronco, pelo pênis, enrijecido de tanta emoção, pelos braços, pela mente, que alçou vôo naquele chão.

O poeta criou raízes e nutría-se de todas as maneiras possíveis daquele solo no qual ancorara-se.

Era feliz no seu chão, não precisava de mais nada! Seus pés presos no concreto o impediam de sair do lugar, mas nem se pudesse sairia. Ali era feliz e lhe bastava ali e ali viveria e ali morreria.

Pedro Vargas